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Foto do escritorPr. Davi Merkh

Quando o Homem se Tornou Boi (COVID-19 e nosso MOMENTO NABUCODONOSOR)

Atualizado: 27 de mai. de 2020


Dizem que orgulho é o único mal que deixa todo mundo doente, menos a pessoa que o tem. Mas era uma vez quando a soberba fez um rei passar tão mal que ele se transformou em boi. Seu nome é Nabucodonosor. Mais difícil que pronunciar seu nome seria passar pelo que ele sofreu.

O livro de Daniel nos lembra que Deus controla o tempo e governa os reis e os reinos como soberano Senhor do universo. Ele não divide Sua glória com ninguém (Is 42.8; Sl 115.1). Deus abomina a soberba (Pv 6.16, 17) e resiste o orgulho com todo o seu ser. Mas Ele derrama seu favor não-merecido sobre o contrito e humilde de coração (1 Pe 5.5; Tg 4.6, 10; Is 57.15).

Nabucodonosor reinou por 43 anos sobre o império babilônico no auge da sua glória. Muitos lhe atribuem a criação dos Jardins Suspensos da Babilônia, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Mesmo sendo advertido em um sonho perturbador sobre seu orgulho, o rei insistiu em exaltar a si mesmo diante da grandeza do seu reino. Daniel interpretou seu pesadelo como sendo uma oportunidade para o rei se arrepender e dar glória a Deus (Dn 4.25), praticando justiça e compaixão para com os menos privilegiados (Dn 4.27).

Um ano mais tarde, a prepotência do rei se manifestou e a paciência de Deus se esgotou. Passeando sobre o palácio real de Babilônia, o rei se gabou dizendo, “Não é esta a grande Babilônia que EU edifiquei para a casa real, com o MEU grandioso poder, e para glória da MINHA majestade?” (ênfase acrescentada; Dn 4.30).

No próximo instante, o grande imperador foi reduzido a uma besta, condenado à loucura ao ponto de comer grama com os animais do campo, com cabelo e unhas crescidas como bicho (Dn 4.31-33). Seria difícil imaginar uma cena mais humilhante. A cena nos lembra do que o Apóstolo Paulo disse aos coríntios, também bêbedos em suas realizações: “Quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (1 Co 4.7).

Demorou sete anos para Nabucodonosor aprender sua lição. Mas sua humilhação culminou em uma das doxologias mais contundentes da Bíblia:

Ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer, ‘Que fazes?’ ... Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico ao Rei do céu; porque todas as suas obras são verdadeiras, e os seus caminhos justos, e pode humilhar aos que andam na soberba (Dn 4.34-36, 37).

Vivemos em dias em que muitos estão passando pelo que autor e conselheiro Jim Newheiser chama de um “momento Nabucodonosor”:

Temos nos orgulhado de uma economia robusta, índices de emprego em alta, um tempo de paz e de realizações tecnológicas e científicas incríveis. Mesmo assim, em poucos meses, o mundo inteiro tem sido dobrado assim como Nabucodonosor foi humilhado por Deus (Dn 4.31ss). Então, enquanto oramos pelos nossos líderes e nossa nação, que eles possam resolver de forma sábia o problema da pandemia, para que a vida volte ao “normal”, oremos também que Deus realize Seu bom propósito através desses tempos difíceis.[1]


Cabe a todos nós perguntar, nestes momentos de incerteza, crise e caos, até que ponto Deus quer nos humilhar à moda de Nabucodonosor. Será que temos nos enganado, pensando que somos soberanos sobre nossos planos? Temos sido anestesiados pelos confortos corriqueiros que curtimos? Ídolos do nosso coração têm nos seduzido para longe de Deus? Somos iludidos pensando que somos os mestres do nosso destino? Relaxamos na valorização da comunhão com outros irmãos e no serviço mútuo? Imaginamos que a prosperidade seja o resultado dos nossos muitos esforços, dons e talentos e não da infinita graça e misericórdia de Deus?

O COVID-19 tem nos ensinado lições valiosas, assim como aprendemos com a experiência de Nabucodonosor no livro de Daniel:

1. Deus é quem controla o tempo. O homem pode fazer planos, mas Deus determina tudo (Pv 16.1, 9, 33). Talvez de forma sem precedente para a maioria de nós, Deus tem nos humilhado para submeter nosso planos a Ele e orar mais ciente que nunca que é somente “Se o Senhor quiser” (Tg 4.15,16).

2. Deus mantém cada átomo do universo em seu lugar. Se por um instante Ele deixar de sustentar o mundo de quarks e nano-partículas, o universo irá derreter. Em Cristo “foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis... Nele tudo subsiste” (Cl 1.16, 17). Se somos impotentes diante de um vírus sub-microscópico, devemos nos humilhar e nos submeter ao Deus Criador. Sem Ele, nada podemos fazer (Jo 15.5).

3. Tudo que temos vem da graciosa mão de Deus (1 Co 4.7). Infelizmente, o ser humano valoriza o que tinha somente depois de perdê-lo. Quantas vezes passamos por cima dos presentes de Deus que hoje fazem falta. Apreciamos infinitamente mais agora o aconchego de um abraço, o conforto da comunhão, o efeito edificante do louvor congregacional ou a vibração diante de uma visita espontânea. Um cafezinho juntos, um passeio no parque, uma tarde no Shopping – todos são fruto da bondade de Deus que não merecemos. Dons, talentos, bens, diplomas, família, emprego e oportunidades vem como privilégios não merecidos mas concedidos pela boa mão de Deus sobre nós.

4. O homem não sabe que não sabe. Nestes dias de pandemia, cansamos de previsões, projeções e prognósticos que se contradizem e mudam cada hora. Não sabemos se isolamento vertical ou horizontal é melhor. Não sabemos se esse tratamento ou outro funciona. Não sabemos se mais pessoas morrerão do virus ou do colapso econômico. Não sabemos quando tudo acabará e a vida voltará ao “normal”. Não sabemos SE voltará ao normal.

Salomão nos exorta à luz da nossa ignorância, “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete ou ainda com oito, porque NÃO SABES que mal sobrevirá à terra... Assim como tu NÃO SABES qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também NÃO SABES as obras de Deus, que faz todas as coisas. Semeia pela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque NÃO SABES qual prosperará; se esta, se aquela, ou se ambas igualmente serão boas” (Ecl 11.1, 2, 5, 6).

O que podemos dizer com certeza é que Deus não desperdiça absolutamente nada no esforço de nos fazer semelhantes a Seu Filho, Jesus (Rm 8.28,29). Humilhemo-nos para admitir que simplesmente não sabemos o que virá amanhã (Tg 4.14; Mt 6.34) e não cansemos de fazer o bem para todos hoje (Gl 6.9, 10).

5. A vida – e a morte - não são previsíveis. Não somos os mestres do nosso próprio destino. Coisas ruins acontecem com gente boa e vice-versa. Casamentos de jovens cristãos são adiados ou realizados virtualmente. Heróis da fé morrem e são velados e suas vidas celebradas por menos de dez pessoas. Idosos ficam isolados em seus quartos no asilo sem ver seus familiares por semanas ou meses. Infelizmente, a vida não vem com uma garantia de satisfação ou então você recebe sua vida de volta. O novo coronovírus ataca os justos e os perversos. A imprevisibilidade da vida, juntamente com a “eternidade no coração” fazem com que elevemos nossos olhos para o Criador (Ecl 3.11, 14).

O autor de Eclesiastes registra sua observação (debaixo do sol) da realidade da vida humana: “Não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém, tudo depende do tempo e do acaso. Pois o homem não sabe a sua hora” (Ecl 9,11, 12ª).

Deus nos ama demais para permitir que nos atolemos na lama da auto suficiência. Ele nos acorda da anestesia da altivez. Ele proporciona "momentos Nabucodonosor" para nos despertar da sedução da soberba.

Orgulho precede a queda. Humildade precede a graça. O homem se torna boi quando rouba a glória de Deus. Mas, o Filho do Homem se tornou glorioso Rei quando se humilhou para ser um de nós. Em momentos de confusão, crise e caos, precisamos nos humilhar para receber Sua graça em "momentos Nabucodonosor". Por isso, Jesus nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).

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