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  • Foto do escritorPr. Davi Merkh

Quando o Desânimo Chegar (1 Rs 18, 19)


Elias havia treinado durante anos para este dia, o que podemos chamar a “Olimpíada Samaritana de 850 a.C.” Ele era o único membro de sua Seleção, que enfrentaria 450 competidores da seleção local. Parecia uma tarefa impossível, mas Elias estava preparado. Ele já havia experimentado grandes vitórias nos seus anos de preparo. Numa maratona ele conseguiu parar a chuva por mais de três anos. Em seu primeiro tour internacional, nos jogos Pan-Palestinianos, conseguiu sobreviver por meses com um punhado de farinha e um pouco de azeite. Tudo isto, porém, não tinha a importância de que se revestia a prova que o aguardava.

Embora parecesse impossível ganhar uma medalha nestas Olimpíadas, Elias não aparentava ser nem um pouco nervoso. De fato, fez um show para todos os que assistiam no Estádio do Carmelo. Enquanto os atletas da Seleção de Baal faziam tudo para chamar a atenção do seu deus, Elias se encostava num poste-ídolo, aguardando sua vez para entrar na pista. Perto do meio dia, não conseguiu mais resistir à tentação e começou a zombar da outra Seleção: “Vamos lá, turma!”, disse ele, “Gritem mais alto! Baal é deus, mas pode ser que esteja “meditando”, ou viajando, ou tirando uma soneca! Gritem mais alto!”

Finalmente, a sua hora chegou. O juiz fez sinal para ele iniciar a prova e ele não perdeu sua chance. Chamando a atenção de todos os espectadores, pediu para molharem seu altar com quatro cântaros de água. Atenderam seu pedido, mas ele insistiu para que fizessem de novo uma segunda e terceira vez. Realmente ele era um homem de plataforma!

Elias, então, percebendo que o altar estava encharcado, rogou ao Senhor que atendesse o seu pedido. E naquela hora caiu um fogo que consumiu tudo: o holocausto, a lenha, as pedras e até a água nas valetas em redor!

Se você pudesse ver o rosto dos espectadores! Com tremor e temor começaram a adorar a Deus. Elias de fato impressionou a todos com sua coragem e ousadia. Já com a medalha de ouro no pescoço, mandou executar todos os inimigos perdedores da Seleção de Baal.

E não parou por aí. Para encerrar, deixou o estádio e correu uma maratona de mais de 38 Km de volta para a cidade de Jezreel antes de chegar uma grande chuva, sinalizando o fim da seca. Sem dúvida foi um grande dia para o profeta Elias!

Naquela noite, deitado na sua cama, desfrutava dos muitos sentimentos que acompanham uma grande vitória. Imaginava o que aquilo significava, não só para ele, mas para todo o seu povo. Seria uma nova era para Israel! Tudo mudaria agora. Os falsos profetas estavam mortos e sua mantenedora principal, a rainha Jezabel, devia estar arrumando as malas para fugir de volta para Sidom.

Foi justamente nesta hora, enquanto saboreava sua vitória, que a campainha tocou. Era um mensageiro do palácio. Ele não trazia consigo um convite especial para uma recepção no palácio em honra ao vencedor. Na verdade, entregou uma ameaça de morte iminente. E assim iniciou-se uma crise de desânimo e depressão para o profeta Elias.

Hoje quando lemos essa história, registrada em 1 Reis 18 e 19, parece difícil acreditar que alguém poderia passar tão rapidamente da euforia de vitória para o desânimo da derrota. Porém, o mesmo acontece conosco. Facilmente perdermos a perspectiva correta sobre as situações em que nos encontramos. Esquecemos de quem realmente somos – vasos de barro, servos humildes, homens e mulheres resgatados pela graça imerecida, vestidos na justiça de Cristo Jesus. Perdemos de vista a grandeza da majestade, do poder e do amor do nosso Deus. Achamos que está tudo perdido.

Quando o profeta tirou seus olhos do Senhor, pensando que ele mesmo era o campeão, que foi ele que vencera pela SUA força, que toda a história era sobre ELE, então uma simples rainha maquiada e idólatra ofuscou sua visão do seu Senhor. Quando perdemos a perspectiva da soberania de Deus, uma segunda-feira se torna insuportável!

A história de Elias é um dos maiores registros bíblicos sobre o que chamamos hoje de “estafa” ou “estresse”. Qualquer um de nós poderia se identificar com Elias. Isto porque, como afirma Tiago, Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos (Tg 5.17). Sua história serve como exemplo para nós. Primeiro vemos Elias vencendo os profetas de Baal, e logo após o vemos batendo em retirada com medo da rainha Jezabel. Todavia, este episódio da vida de Elias nos ensina como lidar com o estresse e o desânimo que muitas vezes experimentamos como vasos de barro. Se por um lado Elias nos adverte sobre fatores que causam desânimo e estresse, na mesma narrativa Deus nos mostra como Ele pode nos livrar deste mal que faz mais vítimas a cada dia.

Ao perdermos a perspectiva correta sobre Deus, sobre nós mesmos e sobre nosso lugar em Seu plano, somos logo acometidos pelo medo. Elias sentiu-se assim e por isso fugiu, deixando tudo e todos (1 Rs 19.3). A fuga é consequência natural para uma pessoa temerosa. Dificuldades, conflitos, problemas financeiros, críticas e sonhos não realizados nos trazem temor quanto ao futuro e logo pensamos em desistir.

Desistir de lutar parece ser razoável diante de uma situação de estresse. Mas quem desiste demonstra seu egoísmo. Elias fugiu para “salvar sua vida”, mas, se esqueceu que a vida de muitas pessoas em Israel estava em jogo. Desistir significa tomar o caminho mais fácil, mas a pessoa se esquece de tudo quanto Deus já fez por ela e também daquelas pessoas que estão a sua volta que a amam e apoiam.

Os discursos e as ações de Elias revelam sintomas da “síndrome de desânimo” em sua vida:

-medo (1 Rs 19.3)

-fuga e isolamento (v. 3)

-irracionalidade (fugiu para salvar a sua vida, depois pediu a morte quando chegou! Vv. 3, 4)

-comparação com os antepassados (v. 4)

-exaustão (v. 5)

-auto comiseração (vv. 4, 10, 14)

-egoísmo (vv. 10, 14)

O epsódio de Elias nos mostra que o cansaço e os desgastes da vida e da batalha espiritual também contribuem ao estresse. Os dias antes e logo depois da sua confrontação com Jezabel foram marcados por intensa atividade e viagens. Elias havia viajado de Sarepta para Samaria, cerca de 130 Km; de Samaria para o Monte Carmelo, 56 Km; do Monte Carmelo para Jezreel, 38 Km; de Jezreel para Berseba 155 Km; e de Berseba para o deserto mais ou menos 30 Km. Agora imagine que ele fez todas essas viagens, mais de 400 km, a pé!

Muitos de nós hoje temos um ritmo frenético como Elias, aquele era homem “semelhante a nós”. Abraçamos mais compromissos do que podemos suportar. Corremos sem parar e quando finalmente paramos, sentimo-nos vazios e desanimados.

Resumindo, podemos dizer que Elias perdeu perspectiva sobre a natureza de Deus, do homem e do seu ministério como profeta e representante de Deus. Em horas de grande aperto, desânimo e depressão, precisamos ser encorajados por Deus. Nada mais serve. Precisamos deixar que Ele renove nossa perspectiva sobre tudo que têm verdadeiro significado. Vejamos como Deus tratou do desânimo de Elias:

1. Deus o deixou a sós (1 Rs 19. 5-10).


Embora houvesse fugido do lugar onde Deus queria que ele estivesse, ainda assim em sua soberania e graça Deus trabalhou na vida de Elias onde ele estava. Deus usou esta oportunidade para mandá-lo em uma viagem longa e difícil, mas com amplo tempo para ficar a sós com Deus e refletir na vida.

Antes da viagem, Deus também proporcionou um período de descanso e de refrigério. Às vezes nos esquecemos de que somos uma unidade de corpo e espírito. A dicotomia falsa entre os dois, remanescente do gnosticismo antigo, não leva em consideração que as condições do corpo afetam nosso estado espiritual e vice-versa.

2. Deus o ensinou a reconhecê-lo nas pequenas coisas (1 Rs 19.11-14).


Elias viu tantos milagres em sua vida e seu ministério, que parece que ele não enxergava mais a mão de Deus nos detalhes. Certamente a atuação divina pode ser vista no vento, na tempestade, no terremoto e no fogo; mas Ele não trabalha exclusivamente através de grandes demonstrações de poder, como muitos em nossos dias querem. Elias conhecia o Deus do trovão, mas não o Deus do silêncio e da suave voz, que só pode ser ouvida por aqueles que se aquietam e observam atentamente a maravilhosa providência de Deus operando à sua volta.

3. Deus o recolocou no trabalho (1 Rs 19.15-17).


A auto revelação de Deus pela suave voz também sinalizou uma transição no ministério de Elias. Talvez Elias pensasse ter chegado ao fim de sua carreira como profeta, mas estava enganado. Se Deus desistisse de seus servos porque eles falham, então certamente Ele não poderia usar a nenhum de nós.

Elias recebeu uma comissão de ser “fazedor de reis e profetas”, um ministério mais nos bastidores do que no centro do palco (ou no cume do Monte!). Ambos os ministérios são importantes no plano de Deus. 1 Pedro 4.10,11 nos lembra que Deus distribui dons de falar e dons de servir. Tudo vem dEle. Na verdade Deus não precisa de nós, mas, por uma razão que só mesmo Deus sabe explicar, Ele resolveu nos usar em seus propósitos. A pessoa desanimada tende a se sentir como uma pessoa inútil. Porém, Deus nos faz úteis em sua obra. Jamais devemos nos esquecer de que somente pela sua graça somos capazes de realizar sua obra! Elias precisava aprender que em Deus sempre é possível recomeçar.

4. Deus o fez ver além de si mesmo (1 Rs 19.18).


Em meio à estafa, Elias perdeu de vista os outros fiéis em Israel, fruto de seu trabalho e de seus colegas! Se Elias desistisse, seriam ovelhas sem pastor! Pouco ele imaginava o impacto que seu ministério, pela graça de Deus, tinha! Deus mostrou ao profeta que nem tudo estava perdido e que Ele continuava cuidando de Israel como sempre fizera antes. Havia fruto em seu ministério, mesmo que não percebido por ele.

Com estas medidas práticas Deus tratou do desânimo do profeta Elias. Grandes derrotas, desânimo e depressão perseguirão o homem e a mulher que serve ao Senhor. Como Elias, somos vasos de barro, imperfeitos, sujeitos ao fracasso. Mas Deus nos usa mesmo assim, e faz resplandecer por nós a excelência da glória do Evangelho e de Cristo (2 Co 4.7). Em horas de desânimo, precisamos renovar a nossa perspectiva sobre Deus, nós mesmos, e a natureza do ministério.

Estamos todos na mesma maratona. Às vezes a nossa seleção parece fraca, mas isso só acontece porque nos esquecemos do membro invisível de nosso time. Deus mais um constitui uma maioria!

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