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A Pandemia do Temor aos Homens (Pv 29.25)

Foto do escritor: Pr. Davi MerkhPr. Davi Merkh

Atualizado: 6 de ago. de 2020


Espalha-se mais que qualquer vírus. Se não for tratado rapidamente, seus sintomas se multiplicam e se agravam exponencialmente. Mesmo depois de várias infecções, há grande possibilidade de mais recaídas. Até agora, não foi descoberta nenhuma vacina efetiva contra ele. Todos os infectados (que chega a 100% da humanidade) precisam tomar doses diárias de remédio contra seus efeitos. Trata-se do temor aos homens.

Provérbios 29.25 nos alerta:

Quem teme aos homens arma ciladas,

Mas o que confia no Senhor está seguro.

No livro de Provérbios, o temor aos homens contrasta com o temor do Senhor. Embora o termo hebraico traduzido “temor” seja diferente, a ideia é a mesma. Quem teme aos homens confia nos homens e espera dos homens o que somente Deus pode dar. Por isso Provérbios 3.5, 6 diz “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas”.

Embora não haja uma imunidade adquirida contra essa doença-pecado, existe pelo menos 3000 anos de pesquisa no laboratório da vida sobre seus sintomas, o diagnóstico e um tratamento eficaz. A partir de Provérbios 29.25 e outros textos, podemos encontrar esperança nas Escrituras para uma vida cada vez mais isenta dos seus efeitos paralisadores.

1. Definindo a Doença: Homens Grandes, Deus Pequeno


Edward Welch em seu livro Quando os Homens são Grandes e Deus é Pequeno (Editora Batista Regular) já identifica o problema principal do temor aos homens. Colocamos pessoas e seu aplauso como ídolos no trono do nosso coração. Menosprezamos a perspectiva divina e exaltamos a opinião de homens.

Pelo paralelismo do texto (técnica da poesia hebraica em que uma linha ecoa e esclarece a outra, muitas vezes por contrastes ou sinônimos), podemos entender que quem teme aos homens confia neles para suprir o que somente Deus é capaz de dar.

Quem teme aos homens arma ciladas,

Mas o que confia no Senhor está seguro.

Jeremias 17.5-8 expande e esclarece as ideias compactas deste versículo:

Assim diz o SENHOR:

Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!

Porque será como o arbusto solitário no deserto, e não verá quando vier o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.

Bendito o homem que confia no SENHOR, e cuja esperança é o SENHOR.

Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para os ribeiros e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto.

A frase “quem teme” em Provérbios 29.25 tem o significado de sentir ansiedade, ter medo, ser terrorizado ao ponto de tremer literalmente (1 Sm 14:15, Is 21:4). O termo foi usado para descrever os terremotos que faziam tremer o Monte Sinai (Ex 19:18). Quem já sofreu para falar em público, evangelizar de casa em casa, participar de um recital ou se apresentar diante de uma autoridade pública, tem uma noção do que significa esse “tremor”. A pessoa que sofre do vírus “temor aos homens” fica trêmulo diante da opinião de pessoas.

O texto diz que a pessoa que cultiva o ídolo do temor aos homens acaba “armando ciladas” ou “caindo em armadilhas”. A frase hebraica literalmente diz que ela “lança isca” ou “prepara isca”. Usada figurativamente, sugere uma ação que acaba seduzindo, atraindo e enganando alguém, culminando em sua destruição, assim como o pescador que lança uma isca que esconde o anzol.

Mas, fica a pergunta: Quem cai nesta armadilha? A própria pessoa que teme aos homens, ou as pessoas que o homem teme, e para quem ele mesmo “joga isca” (por exemplo, pela bajulação, exagero ou pela manipulação)?

A tradução da NVI sugere que o que teme aos homens é quem sofre: Quem teme o homem cai em armadilhas. Essa ideia tem precedente em Provérbios 1.17,18 que descreve o que acontece com o perverso que tenta enganar os outros: “Debalde se estende a rede à vista de qualquer ave; Estes se emboscam contra o seu próprio sangue, e as suas próprias vidas espreitam”.

O texto de Provérbios 29.25 pode ser propositalmente ambíguo para incluir as duas opções. A pessoa que treme diante das opiniões dos outros, acaba vivendo sua vida em prol deles ao ponto de enganá-los ou manipulá-los para receber os elogios ou a aprovação que tanto quer.

Mas, em que sentido a pessoa que teme aos homens faz mal a si mesmo? Quem teme aos homens, muda de opinião, altera convicções, “joga para a plateia”, vive os altos e baixos conforme a opinião vacilante da sua audiência, sofre demais pela comparação, tende à vaidade e pode cair em depressão, tudo baseado no que outros pensam a seu respeito. No fim, vende seu caráter, barateia crenças e vive uma Montanha Russa de experiências cristãs.

Os 12 espias enviados para a Terra Prometida por Moisés exemplificam o temor aos homens. Dois deles, Josué e Calebe, tinham um Deus grande e poderoso, infinitamente maior que os guerreiros de Canaã. Mas dez espias se enganaram pelas vistas. Só conseguiram enxergar gigantes na terra, fazendo com que eles mesmos se sentissem como gafanhotos (Nm 13.28-33). O resultado foi desastroso para o povo de Israel que caiu nesta armadilha.

Quais seriam alguns sintomas de alguém que olha para os homens e não para o Senhor para suprir suas necessidades?

2. Diagnosticando os Sintomas

O “temor dos homens” é um “pecado-tronco” que pela metástase gera muitos sintomas malignos. Podemos listar alguns dos mais comuns:

Ansiedade. A pessoa vive preocupada com o que os outros pensam a seu respeito. Sofre angústias desnecessárias imaginando a opinião popular sobre sua pessoa.

Medo. A possibilidade de rejeição ou ridicularização faz com que pessoas tenham medo de compartilhar o Evangelho, falar em público ou fazer apresentações musicais. Também faz com que alguns fujam de confrontos necessários por medo de perder amizades, amor, popularidade ou carinho. A pessoa que tem medo de perder status diante de outros muitas vezes é incapaz de dizer “Não” e permite que outros façam a agenda da sua vida, muitas vezes sacrificando as prioridades divinas em sua vida.

Vaidade. A preocupação demasiada com aparências faz com que a pessoa gaste tempo, dinheiro e energia para se “produzir”. Pode envolver exageros extremos de dieta e pavor de uns gramas a mais; excesso de exercício físico, tratamentos cosméticos e cirurgias plásticas que visam muito mais do que o cuidado equilibrado do corpo. Tem como alvo projetar uma imagem para receber a aprovação e os elogios de outros.

Ira e mágoas. Esse sintoma mais sutil do temor aos homens resulta quando eu não recebo o aplauso, reconhecimento ou aprovação que eu tanto desejo e que entendo que eu mereço. Como resultado, sinto raiva daqueles que não me dão o valor e elogios que quero.

Mentira e Exagero. Mentira quase sempre manifesta autoproteção ou autoprojeção. Não admite que outros saibam quem eu realmente sou. Exagero parece uma mentira “inocente”, mas também revela um impulso egocêntrico que infla dados, histórias e estatísticas para projetar uma imagem irreal baseada no temor aos homens.

Comparação. Muitos vivem os altos e baixos conforme sua performance em relação a outros em termos de notas, competições, posses, salário, aparência, posição e até mesmo “espiritualidade”. Comparação quase sempre culmina em orgulho (quando saio melhor que os outros), inveja (quando não acho certo que a outra pessoa tem e eu, não) ou desânimo (quando a vida parece injusta e outros me superam; Veja 2 Co 10.12).

Legalismo. Podemos considerar legalismo como a epidemia institucionalizada do temor aos homens. Legalismo não significa manter o alto padrão bíblico de santidade que Deus requer, mas estabelecer regras de avaliação do desempenho humano baseadas nas opiniões de outros e não conforme a Palavra de Deus e a vida de Cristo em nós.

Hipocrisia. Quem vive o temor aos homens cria uma identidade falsa não baseada em sua posição garantida em Cristo, mas na projeção de uma aparência. Faz com que a pessoa seja incapaz de admitir erro ou pecado, receber crítica ou pedir perdão. A máscara dourada segurada pelo hipócrita eventualmente cai, expondo a doença em seu coração.

Bajulação. A pessoa faminta por elogios manipula outras pessoas e situações para receber algo em troca – o louvor ou o favor dos homens.

Perfeccionismo. A compulsão de sempre executar tarefas perfeitas revela a necessidade de ser conhecida como uma pessoa excepcional. Além de ser um padrão inatingível, o perfeccionismo muitas vezes paralisa a pessoa que teme não conseguir tal desempenho.

Inconstância. Com medo de desapontar outros ou ser rejeitado pela turma, alguns se rendem à pressão de colegas, sacrificando padrões, convicções e princípios morais. Em vez de ficarem a sós como Daniel ou José, se entregam às expectativas de colegas e sacrificam seu caráter no altar da aprovação.

Desânimo/depressão. Pelo fato de ser impossível agradar a todos o tempo todo, quem vive o temor aos homens inevitavelmente sofrerá decepções. Sempre haverá alguém mais inteligente, bonito, atlético, famoso, rápido ou reconhecido. Entra em parafuso a pessoa que vive a vida vacilante que depende da performance para seu bem-estar.

Diante desse quadro de sintomas, fica patente que ninguém escapa da pandemia do temor aos homens. Mesmo não havendo uma cura desse lado do céu, podemos oferecer um tratamento bíblico.

3. Descrevendo um Tratamento: O Temor do Senhor

A última frase de Provérbios 29.25 receita o tratamento para o temor aos homens:

Mas o que confia no Senhor está seguro.

À luz do paralelismo, fica claro que o oposto ao temor dos homens é a confiança no Senhor. O que não fica tão nítido é o paralelo entre “arma ciladas” (lança isca) e “está seguro”. Mas o texto original aponta a um contraste marcante, pois a frase “está seguro” traduz um verbo que significa ser posto em um alto e inacessível lugar. Foi usado em uma cidade “alta demais” (Dt 2.36), muros altos (Is 30.13, Pv 18.11), o conhecimento de Deus (Sl 139.6) e uma pessoa próspera como Jó (Jó 5.11; veja também Pv 18.10, Sl 20.2, 69.30, 91.14.)

O tratamento da doença requer criar anticorpos que a atacam em sua raiz. A essência do temor aos homens é um pequeno Deus e homens grandes. A base de identidade de quem teme aos homens é a opinião que outras pessoas têm dele. A solução é uma identidade formada em nossa posição em Cristo Jesus. Se somente soubéssemos quem somos, o que temos, e para onde vamos com Cristo, o temor dos homens não teria mais poder sobre nós. Essa é a mensagem do Evangelho de justificação pelos méritos de Cristo. Também é uma das principais mensagens das Epístolas Paulinas.

Sofremos o temor aos homens pelo fato de que não cremos que a nossa posição em Jesus está eternamente garantida; que Deus já nos aceitou completa e perfeitamente em Cristo; que não podemos mais fazer sacrifício pelos nossos pecados; que em Cristo não há nada a provar, nada a ganhar e nada a perder. O céu é o nosso destino. Somos abençoados com todas as bênçãos espirituais em Cristo. O Espírito do Cristo vivo está em nós e nos faz clamar, “Aba, Pai!”

A mentira de Satanás é que meu valor como pessoa baseia-se em uma fórmula que diz:

V= D + O

Meu Valor Pessoal = Meu Desempenho + a Opinião dos outros sobre mim

A Verdade de Deus diz:

V = S + O

Meu Valor Pessoal = O Sacrifício de Cristo + a Opinião que Deus tem de mim (em Cristo)

Qual o tratamento para o temor dos homens? Confiança no Senhor. Reconhecer meu problema, correr até a cruz de Cristo, confessar que tenho feito ídolos dos homens e do seu aplauso; mergulhar-me no amor e aceitação da minha posição em Cristo; crescer diariamente no conhecimento deste grande Deus.

Deus nos ama tanto que não permitirá que o vírus da opinião de outros passe despercebido. Cada nova infecção exige que corramos até a cruz e ao trono que jorra graça, para achar graça e misericórdia em tempo oportuno (Hb 4.16). Precisamos renovar nossas mentes constantemente sobre a verdade de quem nós somos e quem Deus é, sem permitir que outros nos pressionem dentro dos seus moldes (Rm 12.1,2).

Quando exalto outras pessoas como ídolos em meu coração . . .

quando espero que supram minhas necessidades . . .

quando tento satisfazer suas expectativas . . .

quando vivo para seu aplauso . . .

quando fico deprimido porque não atingi o alvo . . .

ou orgulhoso porque o alcancei . . .

quando recuso confessar meu pecado . . .

ou tenho medo de compartilhar o evangelho . . . ou falar em público . . .

quando me rendo à pressão de colegas . . .

ou sacrifico minhas convicções sobre o altar da opinião popular...

estou expressando o temor de homens em meu coração . . .

A única solução é destruir o ídolo no coração,

e substituí-lo pelo Deus verdadeiro,

que me amou e a si mesmo, se entregou por mim.

A única solução para o temor dos homens é o temor do Senhor.

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