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  • Foto do escritorPr. Davi Merkh

Na Masmorra da Dúvida e do Desânimo (Mt 11.2-6)

Atualizado: 26 de mai. de 2020


Cristão e Esperançoso notaram que havia grama mais verde e um caminho largo e atraente do outro lado da cerca. Deixando a Rodovia do Rei (e contra suas ordens expressas), passaram para o caminho mais fácil em sua jornada para a Cidade Celestial. Infelizmente, o novo caminho desviava-se imperceptivelmente do seu destino final e, quando finalmente acordaram ao fato, era tarde demais. Foram capturados pelo Gigante Desespero e encarcerados na masmorra do Castelo das Dúvidas. Lá, eles caem no desânimo, torturados pelo Gigante, que espera que no fim, vão tirar suas próprias vidas.

Depois de quatro dias, três noites e na véspera do seu fim, de repente Cristão lembra da Chave que lhe foi entregue no início da jornada – a Chave da Promessa. Com a Chave, os companheiros de viagem conseguem se libertar da cadeia, fugir para a Rodovia do Rei e prosseguir viagem...

Essa história clássica do pastor leigo puritano, John Bunyan, ilustra o que muitos, se não todos, do povo de Deus passam em sua jornada para a Cidade Celestial. Dúvida e desânimo fazem parte da experiência da raça humana. E o povo de Deus não tem imunidade adquirida contra esse mal. Mas, como escapar da escuridão dessa masmorra de isolamento, planos frustrados, incerteza, inutilidade e desespero?

A história de João Batista em Mateus 11.1-14 foi escrita para nos encorajar quando nós também nos encontramos trancados no Castelo das Dúvidas (Rm 15.4). Podemos aprender lições preciosas quando somos assolados por dúvidas (da salvação, de decisões a tomar, das circunstâncias e do nosso chamado) e desânimo (sobre finanças, família, saúde, relacionamentos, igreja e mais).

Contexto

Mateus 11 vem logo depois do “Sermão dos Missionários” (Mt 10), o segundo de cinco grandes discursos de Jesus o Rei em Mateus. Nele, Jesus preparou os discípulos para a realidade da obra missionária para qual Ele os enviava (10.5). Duas verdades se destacam:

-A realidade da perseguição (10.16-25)

-A esperança do galardão (10.26-42)

A divisão de capítulos entre 10.42 e 11.1 ofusca o fato de que a história de João na cadeia ilustra as duas realidades missionárias destacadas no Sermão. João passa pela perseguição por ter pregado fielmente a Palavra do Rei Celestial (inclusive peitando o rei terrestre, Herodes, por causa do seu divórcio e recasamento ilegítimos). Mas Jesus também oferece, mesmo que sutilmente, uma palavra de esperança do galardão eterno que lhe esperava.

O fato de que Deus conta todos os cabelos da cabeça de seus embaixadores (10.30) e que cada copo de água fria entregue em prol do Rei seria eternamente galardoado (10.42), servia de grande encorajamento para seus emissários, inclusive João.

Mas uma pergunta talvez pertubava João: “O que adianta ter os cabelos da cabeça contados, se alguém vai tirar sua cabeça?”

Quando chegamos no texto de Mateus 11.2ss, encontramos lições práticas para todos nós que nos sentimos frustrados, iludidos, decepcionados, desanimados e com dúvidas sobre o que Deus está fazendo no mundo e na nossa vida. Podemos descobrir pelo menos quatro instruções do Rei sobre como escapar das nuvens pretas de dúvida e desânimo:

1. RECONHECER a realidade de dúvida e desânimo, mesmo nos embaixadores do Rei (11.2,3)

Em momentos de isolamento, dúvida e desespero, nós nos desanimamos ainda mais pensando que somos os únicos, ou talvez os piores servos do Senhor. Mas nada fica mais distante da verdade. A Palavra de Deus está repleta de ilustrações e retratos de grandes homens e mulheres de Deus que passaram noites, semanas, meses e anos na Masmorra do Desânimo, experimentando o que o Príncipe de Pregadores, Charles Spurgeon, chamava do “Desmaio do Ministro”. Abrão (Gn 15.1-13), Jó (Jó 29-31), Ana (1 Sm 1.1-18), Davi (1 Sm 30.1-6) e Marta (Jo 11.21) encontravam-se presos nas correntes de dúvida e decepção. Talvez o exemplo maior para nós seja Elias, um homem “semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos”(Tg 5.17) que chegou ao ponto de pedir a morte para si (1 Rs 19.4), sentindo-se totalmente isolado, abandonado e inútil (1 Rs 19.10, 14).

Porque Deus faz questão de preservar o retrato desses homens e mulheres fiéis com destaque em seus pés de barro? Porque registrou esse episódio na vida de um grande herói da fé, João Batista? Ele, que foi identificado por Jesus como o maior dos nascidos de mulher (Mt 11.11), o próprio primo do Senhor, que gastou sua vida desde o ventre apontando para Jesus (Lc 1.44). João, o macho do deserto que comia gafanhotos e mel silvestre, conhecido pela sua coragem diante dos poderosos líderes religiosos e políticos, agora encontrava-se encurralado na masmorra escura, cativo em suas próprias dúvidas. Sua história é nossa história.

Aprendemos que a natureza humana – mesmo dos “gigantes” espirituais – está sujeita a altos e baixos. Dúvida e desânimo fazem parte da nossa condição fragilizada pelo pecado e pelo mundo hostil ao nosso redor. Graças a Deus que Ele se compadece de nós e lembra que somos pó (Sl 103.14)! Podemos ir além: Deus só usa homens e mulheres quebrantados, que descobriram a duras penas que não passam de pó, mas que são moldados pelo poder de Deus em vasos de barro, para que Ele receba toda a glória (2 Co 4.7).

Deus usa os desertos de isolamento, a cadeia de dúvidas, a masmorra de desânimo para fortalecer a nossa fé. O quebrantamento provocado por esses momentos nos lembra de que sem Jesus, nada podemos fazer (Jo 15.5). Esses momentos de sequidão e deserto são como os anéis de uma árvore, que representam períodos de solidificação, preparo e fortalecimento de convicções antes de períodos de grande crescimento e serviço.

2. RELATAR a Jesus suas dúvidas e seu desânimio (Mt 11.2,3).

João foi direto para a fonte para resolver suas dúvidas. Mandou dois discípulos para fazer uma pergunta que também expunha seu coração aflito: “És tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro?”(Mt 11.3).

A pergunta revela que a fé de João fora sacudida até os alicerces. Afinal, a mensagem da vida dele, pela qual ele estava literalmente prestes a perder a cabeça, era, “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). Para João, tudo estava em jogo. Será que ele tinha se enganado? Será que foi tudo em vão? Será que ele desperdiçara sua vida?

Às vezes, temos medo de falar com Deus sobre nossa desilusão e dúvida. Mas, dúvida não é “palavrão” na vida cristã. Deus não tem medo das nossas dúvidas. Ele já conhece todas! Deus é honrado quando corremos até Ele com elas. Como alguém disse, “Exige muita fé para duvidar!”

Não é por acaso que 65 dos 150 salmos do Hinário de Israel são Salmos de Lamento. João, como os salmistas de antiguidade, expressava abertamente para Deus suas dúvidas. Todos os servos que mencionamos anteriormente – Abrão, Jó, Ana, Davi, Elias e Marta – levaram suas decepções e angústias diretamente para Deus (1 Pe 5.7).

Graças a Deus, Ele também vai em direção ao seus servos que pernoitam no Castelo das Dúvidas, como Ele fez com Abrão, Elias, Davi, Tomé ... e João. Jesus nos convida e levar nosso cansaço, decepção e sobrecarga a Ele: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).

Deus é mais honrado em nós quando nos agarramos nEle em momentos de escuridão, deserto e isolamento. Em momentos de dúvida e desânimo, corra até Ele e expresse abertamente suas angústias.

3. RECORRER ÀS ESCRITURAS para fortalecer sua fé (Mt 11.4,5)

É curioso que Jesus não responde diretamente a pergunta de João. Ao invés disso, envia de volta seus emissários com um testemunho do que presenciaram no ministério de Jesus: “Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitado, e aos pobres está sendo pregado o Evangelho.” Talvez pensemos que esses sinais seriam evidências suficientes para convencer João da identidade de Jesus como Messias. Mas há mais na resposta de Jesus do que imaginamos.

As manifestações miraculosas citadas por Jesus constituem uma compilação de dois textos do livro profético de Isaías: 35.5-6ª junto com 61.1b, 2ª. João certamente conhecia bem esses textos; afinal, Isaías foi um dos principais livros que profetizaram sobre seu ministério (veja Is 40.3-5; cp Mt 3.3). Então Jesus fez com que João recorresse ao que ele já sabia, renovando sua mente com as verdades das Escrituras. Em momentos de desânimo e diante de dúvidas, temos que renovar nossas mentes com as verdades aprendidas da Palavra. Não é hora de inflar nossa autoestima ou tentar afogar nossas aflições na bebida ou outro vícios (pois os problemas sabem nadar!). Temos que recorrer à Palavra eterna de Deus.

Mas há mais nas entrelinhas da resposta de Jesus. João certamente conhecia o contexto de ambos os textos de Isaías. Note o que vem antes do texto de Isaías 35.5 e depois de Isaías 61.2ª:

Dizei aos dealentados de coração: Sede fortes, não temais. Eis o vosso Deus. A vingança vem, a retribuição de Deus; ele vem e vos salvará... (Is 35.3)

O Espírito do Senhor Deus está sobre mim para... apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram, e a por sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas.. (Is 61.2).

Que palavras de ânimo para João! A mensagem de Jesus para ele foi a mesma do “Sermão dos Missionários”: “Eu vejo! Eu sei! Eu estou contigo! A mim me pertence a vingança! Seu galardão será grande!”

A solução para desânimo e dúvida é a renovação da mente com a verdade da Palavra. Mas isso nos leva para a última palavra de instrução e alento para todos que pernoitam no Castelo das Dúvidas.

4. Receber a promessa de bênção pela perseverança na fé (11.6)

A palavra de Jesus para seu primo encarcerado termina no versículo 6: “Bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço.” Quando Jesus declara “bem-aventurado”, à luz do contexto, entendemos que Ele oferece esperança de felicidade e bênção para todos os que creem em suas promessas – as mesmas que ouvimos só alguns versículos antes: “Quem recebe um pofeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta... Quem der a beber ainda que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10.41, 42).

Essa bem-aventurança, assim como as outras em Mateus (veja Mt 5.1-12) foi escrita para nosso benefício também, assim como Jesus declarou para Tomé, “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram, e creram” (Jo 20.29). Ao mesmo tempo que foi uma promessa para João, também serviu de desafio para ele continuar firme na fé, apontando para Jesus como o Cordeiro que tirava o pecado do mundo.

Nesta altura, os discípulos de João voltaram para a cadeia com esse recado. Mas o texto continua com um discurso de Jesus sobre as virtudes de João, que Jesus considerava como homem resoluto e corajoso (v. 7); comprometido (8); profeta excepcional (9, 10); o maior entre os homens (11) e o cumprimento de profecias (vv. 10, 13, 14). Só que isso deixa uma grande dúvida pairando no ar: Porque Jesus não pronunciou aquelas palavras consoladoras e edificantes ANTES que os discípulos de João saíssem? O que custaria para Jesus deixar algumas migalhas cair da sua mesa de elogios para reconfortar o coração do primo no cárcere?

Podemos especular que Jesus queria que João baseasse sua fé na Palavra de Deus e não em elogios da sua pessoa. Também podemos sugerir que ainda não era a hora dele ouvir os elogios. Seu trabalho ainda não acabara. Somente a eternidade revelará o veredito final sobre nosso labor em prol do Rei e do Seu Reino.

Jesus oferece uma “prévia” daquele dia de galardões diante do seu Bema. Assim como os cabelos da cabeça são contados, Ele tudo vê; Ele tudo sabe. Seu padrão de avaliação dos seus súditos será duplo: Fidelidade (1 Co 4.1,2) e perseverança (Hb 10.35,36). Somente Ele pode avaliar o impacto da nossa vida e do nosso ministério, e assim fará, depois que todo o fruto de todas as árvores de todas as sementes que plantamos foi colhido para Sua glória. Hoje não é o dia dos galardões, mas aquele dia se aproxima.

Não muito tempo depois desse episódio, João Batista pagou o preço último pela sua fé. Mas tudo na sua história nos leva a crer que ele conseguiu escapar do Castelo das Dúvidas pela Chave da Promessa. Temos a mesma esperança, se reconhecermos a realidade de dúvida e desânimo como parte da natureza humana; se relatarmos a Jesus as nossas angústias; se recorrermos para as Escrituras para fortalecer nossa fé e se recebermos, pela fé, a promessa de bênção pela perseverança. Na hora da dúvida, renove sua fé no Senhor e na Sua Palavra!

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