Jeremy Glick foi um homem de verdade. Tudo indica que ele e mais dois passageiros do seu vôo de Newark para Los Angeles nos EUA, no dia 11 de setembro de 2001, impediram que os sequestradores daquele avião causassem um desastre como acontecera em Nova Iorque e Washington. Numa ligação por telefone celular durante o sequestro, Glick deixou instruções para sua esposa Lyzbeth sobre cuidados que ela deveria tomar com a vida dela e da sua filhinha de 3 meses. Explicou que ele e outros dois passageiros iriam por fim ao projeto sinistro dos terroristas. Sabiam que iriam morrer. O resto da história só Deus sabe. Jeremy Glick morreu como um homem de verdade.
Enquanto Glick morreu como herói, Deus dá uma tarefa ainda maior para cada homem em Cristo: Estar disposto não somente a morrer pelos seus amados, mas a viver por elas também.
Muitas vezes, nosso mundo define a masculinidade em termos de machismo, mulheres conquistadas, cerveja bebida e o peso levantado. Mas Deus tem uma outra definição do varão verdadeiro. O homem de verdade dá sua vida dia após dia pelos outros. Esse é o “outrocentrismo” que caracteriza a vida de Jesus, o modelo da masculinidade verdadeira.
Colossenses 3.19 e Efésios 5.25 exigem que o marido cristão ame a esposa. Porque Deus deu essa ordem para os homens? Porque sabia que homens têm uma grande luta na área de auto sacrifício e auto negação. A mulher luta com a submissão ao marido e o marido luta com seu egoísmo. Gênesis 3:16 decretou a lex talionis (lei de retaliação, ou seja, o castigo é conforme o crime) em que, como consequência da entrada do pecado na história humana, a mulher tentaria subjugar o marido e ele por sua vez oprimiria sua esposa. Nasceu, então, o feminismo e o machismo, que somente poderão ser revertidos em Cristo Jesus. Mas em Cristo, o homem pode ser o Adão que Adão nunca foi, e a mulher pode ser a Eva que Eva nunca foi.
Mas, como os homens podem amar suas famílias? À luz dos textos de Efésios e Colossenses, a resposta é, “Como Cristo amou a Igreja!”
Antes de analisarmos de forma prática o amor bíblico do marido e pai, seria bom fazer três observações genéricas sobre os textos:
1) O amor bíblico oferece-se pelo marido, não se exige pela esposa.
2) O amor bíblico do marido é uma ordem, não uma opção.
3) O amor bíblico exige uma obra sobrenatural do Espírito Santo, produzindo a vida de Cristo no marido.
A escultura do homem que ama a esposa exige algumas batidas da talhadeira divina, cada uma esculpindo um pouco mais a masculinidade genuína conforme a imagem de Cristo.
1. O amor bíblico do marido segue o PADRÃO do sacrifício de Cristo.
Efésios 5:25 diz, “Maridos, amai vossas mulheres, COMO TAMBÉM Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela.” Exatamente qual foi o padrão do amor de Cristo? Sabemos que foi um amor sacrificial e serviçal. Será que eu como homem abro mão de confortos e privilégios, ou que insisto em ser servido? O verbo “amar” implica em DAR, e sacrificar-se a si mesmo para promover o bem-estar do outro.
Um bom teste para qualquer líder de família seria substituir a palavra “marido” no lugar da palavra “amor” no texto clássico sobre o amor bíblico, 1 Coríntios 13.
O marido é paciente;
o marido é benigno,
o marido não arde em cíumes,
o marido não se ufana, não se ensoberbece;
o marido não se conduz inconvenientemente;
o marido não procura os seus interesses,
não se exaspera, não se ressente do mal;
o marido não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
o marido tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
2. O amor bíblico do marido implica na PURIFICAÇÃO da esposa.
Efésios 5:26,27 diz que o sacrifício de Cristo foi com o PROPÓSITO de PURIFICAR a igreja, e que o homem tem o mesmo dever no lar: “para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito” (veja 1 Pe 3:7b, 1 Co 14:35).
Como “purificar” a esposa e a família? A resposta está numa liderança espiritual masculina que proporciona crescimento espiritual a todos. Raros são os homens que pastoreiam suas famílias, que se preocupam com a purificação delas. Purificação vem pela liderança masculina que proporciona crescimento espiritual para a família!
A escultura de um homem de verdade leva-o a proporcionar crescimento espiritual em seu lar:
*Orando com com esposa
*Liderando um tempo devocional (“culto doméstico”)
*Encorajando crescimento espiritual de cada indivíduo
*Verificando que o entrenimento e lazer da família são saudáveis
*Levando a família às celebrações comunitárias da igreja local
*Envolvendo a família no serviço a outros
*Investindo no Reino de Deus com os bens.
3. O amor bíblico do marido exige a PROTEÇÃO da esposa.
Efésios 5:28 diz “Assim também os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos”. 1 Pedro 3:7 acrescenta: “Maridos, vós igualmente vivei a vida comum do lar, com discernimento; e tendo consideração para com a vossa mulher, como parte mais frágil, tratai-a com dignidade.”
Como que o homem cuida do seu corpo? Providenciando suas necessidades e seus desejos; alimentando-o, exercitando-o, descansando-o. Até os mínimos movimentos do corpo, desde o piscar de olho, são para protegê-lo. Homens, ao contrário à opinião popular, são muito cuidadosos com seus próprios corpos. Deus espera que o varão verdadeiro faça a mesma coisa com as necessidades de sua esposa. Mas como protegê-la?
*Não exigindo demais dela
*Preocupando-se com os mínimos detalhes de seu bem-estar
*Não colocando sobre seus ombros o peso de suprir as necessidades do lar, tomar decisões difíceis, disciplinar (sozinha) os filhos, discipular os filhos, cuidar do lar, etc.
O homem passivo, assim como Adão no Jardim do Éden, não toma iniciativa para proteger sua família. Não vive a “vida comum do lar”, mas se mantém distante, frio, alheio à vida e às necessidades de cada um.
4. Amor bíblico do marido implica na PRESENÇA integral do homem no lar.
Um problema sério para muitos maridos (e cada vez mais esposas) é que a realização profissional TIRA o homem do lar, seduzindo-o pela possibilidade de posição, posses e poder. Mas Deus chama o homem de volta para o lar, não para ser negligente para com sua responsabilidade de ganhar o pão de cada dia, mas para manter equilibrio entre a profissão, o ministério e a família.
Quando Pedro chama os homens para “Viver a vida comum do lar” (1 Pe 3:7) o termo que usa traz a ideia de coabitar, ter uma presença efetiva (não simplesmente marcar presença!), e participar das atividades do lar. A Nova Versão Internacional diz, “Sejam sábios no convívio com suas mulheres”. Em outras palavras, PARTICIPAR da vida do lar caracteriza um homem de verdade.
Infelizmente, muitos homens acham que, uma vez que cuidam das necessidades básicas do lar (provisão de alimento e casa; proteção contra perigos) cumpriram seu dever. Mas Deus os chama um passo além: para conhecer as necessidades e as atividades de cada um, e ser sensível e sábio no cuidar de todos. Isso implica em viver pelo bem-estar dos outros, custe o que custar para ele mesmo.
Resumindo, Deus chama o marido cristão para ser o Adão que o primeiro Adão nunca foi, mas o Último Adão, Jesus Cristo, foi. Nenhum homem em si mesmo será capaz de fazer isso. Mas em Cristo, tudo é possível. Jesus quer viver a vida dele através do homem de verdade.
Jeremy Glick foi um herói, um homem de verdade, pois deu sua vida para proteger muitas outras pessoas. Mas maiores heróis são aqueles homens que entregam suas vidas dia após dia no altar do bem-estar de suas famílias. Seguem o padrão de auto sacrifício de Cristo na purificação de suas famílias. Procuram proteger todos pela sua presença integral com a família. Não somente estão dispostos a morrer pelas suas famílias, mas viver por elas também.
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