Nos dias 14 e 15 de abril, 1912, o majestoso Titanic terminou sua viagem inaugural no fundo do mar, um desastre em que quase 1500 almas se perderam. Mas a tragédia maior foi o fato de que aquele desastre poderia ter sido evitado. Várias advertências alertaram o navio ao perigo de icebergs nas águas. Mas ao que tudo indica, o Capitão Smith ignorou as advertências, preferindo confiar em seu navio “infundável.”
Muitos casamentos que conseguiram navegar pelos mares às vezes tempestuosos dos primeiros anos de adaptação, ainda enfrentam um oceano repleto de icebergs na sua segunda década de amor, e além dela. Assim como um iceberg, esses perigos talvez pareçam menores na superfície do que realmente são.
Depois de quase quatro décadas de casamento, eu e minha esposa conseguimos identificar alguns desses perigos que ameaçam muitos lares. Com a bússola da Palavra de Deus, poderemos passar com tranquilidade pelos anos em que o amor atinge sua maioridade. Que tal ligar seu “radar” matrimonial para verificar se talvez alguns desses perigos estejam no horizonte do seu casamento?
1. O Rotineiro. O primeiro iceberg capaz de afundar o matrimônio faz parte de um processo natural em que a paixão da lua-de-mel se transforma num amor mais maduro e estável. Mas “estável” pode também ser sinônimo por “frio” se o casal não se guardar de uma vida rotineira e previsível demais. O ditado que diz, “Familiaridade gera ódio” sugere que podemos permitir uma distância em nossos relacionamentos como resultado do cotidiano.
Em meio a tantas preocupações com os filhos, com a carreira, com contas a pagar e muito mais, as pequenas cortesias do namoro e lua-de-mel ficam esquecidas. Acabamos voltando toda a nossa atenção para nós mesmos, e não mais para o cônjuge. 1 Coríntios 13 nos lembra de que um amor vivo não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta.
Foi assim com Salomão e a Sulamita no livro do Cântico dos Cânticos. Após a lua de mel, o rotineiro deu tiro no pé do romântico (Ct 5.2ss). O casal precisava renovar seu primeiro amor através da apreciação mútua.
O livro de Provérbios sugere que podemos e devemos manter acesa a chama do nosso amor, mesmo na segunda, terceira e quarta décadas do casamento. Falando do amor romântico no casamento, o autor diz, “Seja bendito o teu mancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores, e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias” (Pv 5.18,19).
Sugestões: Que tal voltar a “paparicar” seu cônjuge como fazia antes? Abrir uma porta, escrever um bilhete, massagear as costas, fazer cafuné nos pés, comprar uma flor, sair para jantar, dar um abraço “fora da hora” e muito mais são maneiras de dizer “Eu te amo” e interromper a monotonia e por fim ao egoísmo no relacionamento.
Quando foi a última vez que vocês saíram, só os dois, para um tempo a sós? Havendo condições o casal deve fazer todo esforço para planejar uma saída - talvez um retiro ou congresso de casais, ou até mesmo um fim-de-semana longe da casa, dos filhos, do trabalho, da igreja e da vida rotineira.
2. Carreira x Família. Dois eventos simultâneos coincidem na segunda e terceira décadas de
casamento para muitos. É o tempo em que muitas carreiras disparam. Mas também é o tempo em que os filhos precisam muito dos pais, especialmente quando passam pelos difíceis anos da pré-adolescência e adolescência. Pais ausentes dificilmente orientarão os filhos como navegarem por essas águas profundas.
As Escrituras colocam em cheque nossa ambição desenfreada. Salmo 127 nos desafia: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. . . Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem” (1,2). Salmo 131 declara “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim”(1).
Sugestão: Avalie suas prioridades como família. Aquela promoção realmente vale a pena? Sua família realmente precisa de mais dinheiro, ou de mais tempo juntos? Você TEM que trazer tanto trabalho para casa? Nenhum homem ou mulher de negócios termina sua vida com ressentimentos porque não fechou mais um negócio, mas muitos sofrem por não ter investido mais na vida de seu cônjuge e de seus filhos
3. Filholatria. A Revista Veja, numa edição especial “Sua Criança”, publicou um artigo intitulado, “Fuja do Filhocentrismo”. Relata como os pais de hoje são incapazes ou indispostos a dizer “Não” aos filhos, permitindo que os filhos sejam pequenos deuses no lar.
Semelhantemente, a Revista Seleções publicou um artigo indagando, “Romance com Filhos é Possível? Tornar-los o Centro de Sua Vida Pode Lhe Custar Caro.” A síndrome do ninho vazio resulta quando os pais se dedicam durante 18 anos aos filhos mas se esquecem de investir na amizade conjugal. Os dois artigos não recomendam negligência ou abandono dos filhos, mas apontam para uma forte tendência em nossos dias de idolatrá-los. Biblicamente, não é o eixo pai-filho e sim, marido-esposa, que ancora o lar (Gn 1.27, 31; 2.24). Quando mãe e pai estão bem como casal, tudo tende a ir bem em casa. Mas quando há atritos entre o casal, o mundo dos filhos afunda.
Sugestão: Seria bom os pais verificarem se já caíram no extremo de filholatria, e tomar providências para voltar ao equilíbrio bíblico. Têm medo de contrariar o filho? Resistem sair de casa só os dois, sem os filhos? Os programas dos filhos dominam o lar? Os pais apresentam uma frente unida diante dos filhos na disciplina e nas decisões, ou os filhos conseguem jogar um pai contra o outro?
4. Mágoas. Pequenos atritos e conflitos não-resolvidos se acumulam no decorrer dos anos, e facilmente naufragam relacionamentos. Por isso o Apóstolo Paulo aconselhou, “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo” (Efésio 4.26,27). Nem sempre vamos concordar sobre tudo e, às vezes, teremos que concordar em discordar. Mas se não resolvermos nossas diferenças, as mágoas se empilharão entre nós, afastando-nos um do outro. Talvez por esse efeito cumulativo, muitos casamentos acabam se afundando justamente depois da primeira década
Sugestão: Se existem questões não-resolvidas entre vocês, o primeiro passo é reconhecer SUA parte no conflito e pedir perdão (não desculpas) do seu cônjuge, sem exigir ou esperar que ele faça o mesmo. O perdão ministra a graça de Deus em seu lar, e remove obstáculos que facilmente naufragam um relacionamento.
A vida outrocêntrica de Cristo deve manifestar-se mais e mais enquanto o casal navega pelos mares matrimoniais. Ainda há muitos icebergs, mas o casal que já conseguiu navegar pelos primeiros dez anos de casamento, certamente tem condições de vencer a segunda, terceira, quarta e quinta décadas. Esse casal pode tranquilamente concordar com o velho corinho infantil, “Com Cristo no barco tudo vai muito bem!”
Comentários