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  • Foto do escritorPr. Davi Merkh

A Igreja, Família de Deus ou Franchising?

Atualizado: 16 de jul. de 2020


Existem muitos modelos de igreja e pacotes ministeriais sendo vendidos hoje, a maioria importada da outra América, da Coréia do Sul ou de países vizinhos na América Latina. Alguns desses programas incluem ideias interessantes. Mas quando aplicados indiscriminadamente, tratados como a salvação da igreja ou implementados como se a igreja fosse uma empresa e não uma família, temos um grande problema. Perdemos a beleza do modelo familiar da igreja.

No século XVII o pastor puritano Richard Baxter disse, Uma família cristã ... é uma igreja ... uma sociedade de cristãos juntando-se para a melhor adoração e o melhor serviço a Deus... Estas famílias em que este serviço a Deus é realizado são como pequenas igrejas; sim, um tipo de Paraíso sobre a terra.[1]

Dizem que famílias fortes fazem igrejas fortes. Infelizmente, a perspectiva da Igreja como uma família tem sido ofuscada por outros modelos que transformaram a igreja em uma empresa ou até mesmo, em uma ONG. Não sabemos mais o que é uma família saudável e, por isso, não temos igrejas saudáveis.

A igreja não é um “negócio”; a igreja é uma família. Quando a Igreja é uma empresa, os membros assistem os cultos como espectadores de um show. A liderança é escolhida pelo status social e profissional e não pelo caráter digno demonstrado principalmente em casa (1 Tm 3.1-5). As mensagens deixam de confrontar pecado por medo de perder “fregueses”. O compromisso dos membros para com a igreja é somente enquanto a igreja oferece os produtos que desejam. Não se pratica disciplina do pecado por medo de que os membros irão para a Igreja-loja da esquina. As conferências de pastores focalizam cada vez mais técnicas de administração, marketing, gerenciamento e pacotes de crescimento do que exposição bíblica, oração, pastoreio do rebanho, caráter digno e cuidados familiares.

Quando a Igreja é uma ONG, fala-se mais em ação social do que evangelismo e a pregação da Palavra (2 Tm 4.1-5); preocupa-se mais com ação social e posturas políticas do que com a família de Deus (Gl 6.10); a exaltação de Jesus como Cabeça da Família fica em segundo plano (Mt 16.18; Cl 1.15-19) e a pureza doutrinária e santidade de vida são marginalizadas desde que haja justiça social e a alimentação dos pobres.

Há muitas metáforas bíblicas que descrevem a igreja. À luz da Palavra, a igreja pode ser comparada a:

*um prédio/templo (1 Co 3.10-17; Ef 2.19-21);

*um corpo (1 Co 12);

*um campo cultivado (1 Co 3.6-9);

*um aprisco (Jo 10) e

*um exército (2 Tm 2), entre outras figuras.

Cada metáfora faz observações importantes sobre a vida da igreja. Mas a imagem da igreja que sobressai nas Escrituras é de uma família.

Em 1 Timóteo 3.15,16, Paulo identifica a igreja como sendo a “casa de Deus”, metáfora bíblica que descreve a FAMÍLIA: Escrevo-te estas coisas…para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder NA CASA DE DEUS, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade (1 Tm 3.15,16). Parece ser esse o modelo norteador sobre a vida eclesiástica em todas as Epístolas Paulinas.

Nesta casa-família, Deus é nosso Pai (Ef 3.14,15), Jesus é o Noivo e a igreja é a noiva (Jo 3.30-35; Ef 5.22-33). Líderes espirituais são como pais (1 Tm 3.1-5; 1 Co 4.15; cp Gl 4.19) e juntos, somos irmãos em Cristo. Veja como Paulo aplica esse conceito aos relacionamentos na igreja: Não repreendas ao homem idoso, antes exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, com toda a pureza (1 Tm 5.1,2).

Não é por acaso que Deus usa qualificações familiares para autenticar a liderança da igreja. O líder espiritual da casa de Deus deve ser marido de uma só mulher...que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito. (1 Tm 3.2,4). O argumento lógico que Paulo usa para defender esse alto padrão para a família do presbítero resume o argumento aqui. Ele diz, POIS SE ALGUÉM NÃO SABE GOVERNAR A PRÓPRIA CASA, COMO CUIDARÁ DA IGREJA DE DEUS? (1 Tm 3.5; cp Tito 1.5,6).

Assim como não existem famílias perfeitas, também não existem igrejas sem suas falhas. Mas o modelo de família nos oferece uma ideia de como deve ser a igreja local – uma excelente peneira para avaliar ministérios, programas e filosofias eclesiásticas. Infelizmente, algumas pessoas nunca tiveram a experiência de participar de uma igreja-família saudável, onde as pessoas são acolhidas, conhecidas, amadas, instruídas, confrontadas, disciplinadas, cuidadas e perdoadas. A igreja precisa ser a família para aqueles que não têm uma família cristã.

Quando “marketing” rege a igreja, quando pacotes e fórmulas de sucesso para crescimento de igrejas ditam nossos programas, as pessoas tendem a ser descartáveis. Disciplina quase não existe. Ensino sério e treinamento para as reais necessidades da vida se transformam em mensagens voltadas para autoajuda, autoestima e “necessidades sentidas”. O povo se torna espiritualmente raquítico.

Cabe a nós algumas perguntas: Será que eu e você valorizamos a família como se fosse uma pequena igreja? Tratamos a nossa igreja local como uma grande família? Sentimos saudades quando precisamos nos ausentar das suas reuniões por um período? Ou marcamos pontos com Deus e com o pastor pela nossa presença? Amamos nossos irmãos de fato? Apoiamos os ministérios da igreja como atividades da nossa família da fé? Acolhemos pessoas novas como receberíamos visitas em casa? Praticamos disciplina bíblica com seriedade e amor, como disciplinamos nossos filhos (se é que disciplinamos nossos filhos!)? Fazemos sacrifícios em nome do amor pelos irmãos necessitados da família da fé (Gl 6.10), assim como faríamos para nossos próprios familiares?

Uma família cristã é uma igreja, e a igreja é uma família de cristãos. Que Deus nos dê igrejas que parecem mais como famílias do que empresas, e famílias que parecem pequenas igrejas e “paraísos sobre a terra”.

[1] Citado em Leland Ryken, Santos no Mundo

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